quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

"Tive que despir a Cláudia Raia"

A atriz conta que abandonou seu estilo para buscar a brutalidade de Donatela, em A Favorita, diz que sua casa está mais para o humorístico a grande família do que comercial de margarina e revela que nunca teve uma crise de ciúme com Edson Celulari
Na véspera da entrevista, Cláudia Raia começou a gravar em A Favorita às 10h30 e só terminou às 4h30 do dia seguinte, uma jornada de 18 horas na pele de Donatela, sua personagem. Ainda assim, chegou pontualmente às 12h, num restaurante próximo de sua casa, no Itanhangá, Rio. O contraste com Donatela é gritante. Os gestos bruscos, o andar masculino e a expressão rude da personagem desaparecem, dando vez a uma mulher refinada, simpática e linda, mesmo estando sem maquiagem. "Não pude oferecer nada meu para a Donatela porque nada se encaixa. Tive que despir a Cláudia Raia, tirar o andar da bailarina, da mulher alta, estilosa, para buscar a brutalidade, andar de pernas abertas e com a bunda para dentro", enumera. A atriz está satisfeita por ter vencido a estranheza inicial que provocou. "As pessoas se assustaram no começo, mas com o tempo foram entendendo. Foi muito gostoso." A imaturidade emocional, o comportamento quase infantil com os homens, a carência e toda a fragilidade de Donatela também não têm correspondência com ela. "Sou muito yang, muito masculina para tomar atitudes e resolver as coisas", diz. Se esse seu temperamento atrai os homens, ela não sabe. "Esse negócio de homens está distante da minha vida há tantos anos que não sei se ainda tenho essa embocadura", conta, antes de tecer os maiores elogios a Edson Celulari, com quem está casada há 14 anos

A atriz ressalta que o marido não é machista nem tem medo de encarar o seu lado feminino. "Edson agüenta uma mulher como eu e rege essa filarmônica com muita maestria. Ele é inteligente, capaz e hábil o bastante para lidar com toda essa complexidade de 1,80m." Cláudia refere-se à altura. Em março, ela fez uma impressionante festa-surpresa para comemorar os 50 anos do marido, reproduzindo no salão de eventos do Museu de Arte Moderna do Rio um paraíso celestial, com tudo azul, a cor com a qual Edson vê o mundo. Foi uma trabalheira de três meses, mas plenamente recompensada. "Ele ficou tão radiante que passou cinco noites acordando de madrugada para me perguntar sobre cada detalhe da festa." A atriz explica que não quis deixar passar em branco a forma com que o marido alcançou os 50. "Na plenitude, com aquela cara, aquele corpo, feliz, com uma família linda que construiu, um casamento bem-sucedido..."


Como mãe de Enzo, 11 anos, e Sophia, 5, faz a linha disciplinadora. "Criança tem que ter limites, alguém tem que botar ordem no galinheiro." Isso, explica a atriz, não entra em conflito com seu caráter amoroso. Ela conta que faz tudo delicadamente e na brincadeira. Um ponto que não faz concessões é com a alimentação, educando as crianças a comer de tudo, de comida tailandesa a verduras. "Dizer que McDonald's é mais legal do que salada não dá. Uma criança obesa pode se tornar um adulto mórbido, com problemas de saúde." Cláudia acredita que há pais com preguiça de educar. "É mais fácil deixar os filhos em frente à televisão, comendo salgadinhos." Na telinha, tanto Enzo quanto Sofia gostam de ver os pais atuando, mas a atriz tem o cuidado de privá-los dos capítulos mais fortes. Ela argumenta que os próprios filhos não gostam de ver os pais sofrendo ou beijando outros atores. "Eles sabem que é tudo encenação, mas ver é uma coisa, saber é outra. Isso mexe com a cabeça da criança, não tem como." Segundo Cláudia, quando os filhos ouvem uma negativa sua, não procuram o pai para arrancar uma opinião diferente porque seu pacto com Edson é invencível. A atriz garante que nunca brigou com o marido. "Na verdade, é o Edson que não briga comigo porque sou a pimentinha. A gente diverge, mas é tudo conversado com muita educação." O ciúme também não é um problema, principalmente porque Edson é muito reservado e não dá motivos. "Nunca tive crises de ciúmes. E ele já entendeu que sou mais dada e me aceita assim." O bom humor de Cláudia, até mesmo na vida sexual, é outro ingrediente na receita da boa relação. "Diria que sou uma mulher sexualmente liberada e criativa", define. Revela ainda que se divertem com produtos de sex shops e que Edson, quando esteve em Amsterdã, trouxe novidades. "Sex shops são como a Disneylândia. Não resolvem a vida de ninguém, mas divertem." Cláudia derruba ainda a imagem de diva que fazem a seu respeito. "Não me levo a sério e não acordo elegante, de camisola vermelha. Acordo de pijaminha de malha cinza", diz.


Apesar da harmonia construída com Edson, a atriz rechaça a imagem de família perfeita. "Não acordamos de branco esvoaçante, comendo pão torradinho e manteiga derretendo. Estamos muito mais para A Grande Família (humorístico da Rede Globo) do que para comercial de margarina." A atriz explica que existe entre eles uma enorme disponibilidade para estarem juntos. Quando surge uma oportunidade de se reunirem, não há programa individual que não seja dispensado. "Valorizamos muito isso, até por causa da confusão de nossas profissões." Ela enaltece também a qualidade de o casal ser forte individualmente, sem um se anular por causa do outro. "Não gosto muito de casais que vivem uma simbiose e cada parte vai perdendo sua identidade." Outro traço em comum é o romantismo. No último capítulo de Beleza Pura, na qual Edson trabalhou, o ator recebeu em casa um buquê de rosas com o cartão: "Parabéns. Eu te amo. De sua esposa, orgulhosa." Da mesma forma que ela recebeu flores na estréia de A Favorita. "Sabemos que temos ao lado alguém que está fervorosamente torcendo por você e te apoiando. Achei que, por causa da vaidade, isso não fosse possível num casal de atores."


Aos 41 anos, a atriz não descarta a possibilidade de engravidar novamente. "Sinto vontade de ter mais um filho." Enzo, porém, é contrário à idéia. Ele diz para a mãe que ela é "exagerada", porque já tem um casal de filhos e deveria se dar por satisfeita. "Mas a Sofia quer um irmão para cuidar", argumenta Cláudia. Edson também gostaria de mais um herdeiro, mas deixa a decisão nas mãos da mulher, por entender que esta seria uma grande mudança na vida dela. "Tem a gestação, a amamentação até um ano e meio. E não é só a questão profissional. É uma logística ter três filhos no nosso trabalho."

Por conta da novela, a rotina da atriz está atualmente de pernas para o ar. A terapia que faz há oito anos, foi substituída por conversas ao telefone com a analista, mas Cláudia tem se desdobrado para manter outros hábitos que também considera fundamentais: o balé, o canto e a ginástica na academia que tem em casa. "Faço menos do que deveria. Mas se não fizer, não fico bem, me sinto menos preparada até para representar." Mas todo esforço vale a pena para interpretar uma personagem como Donatela e, para ela, a importância de estar no horário nobre nada tem a ver com a possibilidade de faturar mais ou menos no mercado publicitário. "Como é que alguém faz uma novela pensando no retorno financeiro que vai ter? Não levo isso em conta. Nem deixo de fazer uma vilã porque posso perder campanhas. Isso é uma coisa pequena", critica.

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